sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Leia com olhos do coração...

Segurando sua mão

Fabrício, meu aluno, era caladinho com os colegas... regular na aprendizagem... não conversava comigo... e a mãe sempre dizia que ele era muito "devagar"... Comunica-se através da libras... Antes do recesso de junho, depois de ter passado uma atividade, pedi licença à turma e fui tomar um cafezinho na cozinha da escola (saí sem fazer o desjejum). Quando estou saboreando meu café, aparece o Fabrício com o rosto ensangüentado, acompanhado por dois colegas contando que ele tropeçou e bateu com a testa na quina da porta. Olhei o ferimento e percebi haver necessidade de levar pontos. Liguei para a família avisando o ocorrido. Logo a irmã chegou e fomos para a clínica. A irmã estava nervosa, chorando e dizendo que o Fabrício ia desmaiar porque "não agüenta dor, nem ver sangue". Quando chegamos, olhei para o Fabrício, disse-lhe que os pontos não iriam doer pois a médica daria anestesia. Durante a sutura fiquei segurando sua mão, sempre sorrindo para ele. Depois de ser medicado deixei-os em casa e voltei para a escola. No outro dia, na sala, encontro o Fabrício feliz da vida. Fiquei surpresa, pois o surdo geralmente tem a saúde frágil e qualquer indisposição os deixa na cama. Pedi para ele contar tudo que aconteceu na clínica, para construirmos um texto. Muito à vontade começou a contar o ocorrido e sempre sinalizava que eu estava junto dele e segurava sua mão. A partir daí o Fabrício ficou "enturmado", sempre me sorria e conversava contando as coisas do seu dia a dia. Na reunião de pais, sua mãe me perguntou por que o Fabrício mudou tanto... chegava em casa ia logo estudar, estava atencioso com a família e fazendo planos de ser aprovado para a 5ª série. Respondi-lhe que também observei a sua mudança na escola mas, não tinha uma resposta para dar. Depois da reunião, avaliando os resultados do encontro com os pais, fiquei pensando... não teria respostas para a mãe do Fabrício mas, muitas vezes, em certos momentos da nossa vida, gostaríamos imensamente de ter alguém segurando fortemente nossa mão...

(Elza Portugal)

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